quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Revolta da Chibata!!!

Cem anos da Revolta da Chibata!!!

No dia 28 de Novembro de 2010 será cem anos da Revolta da Chibata, revolta de marinheiros da Marinha da Brasil, ocorrida no Rio de Janeiro e que marcou a História, como um movimento dos marinheiros, na sua grande maioria negros e mulatos, que questionaram a prática de castigos físicos, como chibatadas, ferros, palmatórias, ginástica sueca, aplicada pela oficialidade brasileira, que na sua grande maioria eram filhos da oligarquia agrária e tratavam marinheiros como escravos.

Conheça um pouco deste movimento, que depois foi retratado na música “Mestre Sala dos Mares”, e que teve em João Cândido da Silva, o seu Almirante Negro. João Cândido foi um dos sobreviventes da Revolta da Chibata e continuou lutando por um Brasil mais justo. Vamos encontrar o nobre Almirante Negro participando dos movimentos de cabos, sargentos e marinheiros no pré 64.

João Cândido da Silva - Primeiro Herói Brasileiro do Século XX

No ano de 1910, mais de 20
0 marujos agitaram a Baía de Guanabara, ao se apoderarem de navios de guerra para exigir o fim dos castigos corporais na Marinha do Brasil, herança do período imperial, onde essa arma era tida como a mais importante e dirigida pelos mais "aristocráticos" oficiais. Foi a Revolta da Chibata, liderada por João Cândido, o Almirante Negro.

O Brasil era uma das maiores potências navais do mundo, destacando-se a sua Esquadra Branca formada pelos encouraçados Minas Gerais e São Paulo, pelos cruzadores Rio Grande do Sul e Bahia e por mais 18 navios. O Governo gastara uma fortuna para modernizar sua esquadra, mas o código disciplinar da Marinha era o mesmo do tempo da monarquia, assim como os arbitrários processos de recrutamento. Criminosos e marginais, produtos de uma sociedade que lhes negava maior sorte, eram colocados lado a lado com homens simples do interior para cumprir serviço obrigatório durante 10 a 15 anos. As desobediências ao regulamento eram punidas com chibatadas. Por isso, as revoltas ocorriam antes mesmo do ingresso na corporação.

O decreto nº 3, de 16 de novembro de 1889, um dia após a Proclamação da República, extinguiu os castigos corporais na Armada, mas em novembro do ano seguinte o marechal Deodoro da Fonseca, contraditoriamente, tornou a legalizá-los: "...para as faltas leves prisão e ferro na solitária, a pão e água; faltas leves repetidas, idem por seis dias; faltas graves, 25 chibatadas...".

Como os reclamos dos marujos não foram ouvidos, eles passaram a conspirar. Uma primeira advertência foi feita durante a ida de uma divisão da Marinha às comemorações da Independência Chilena, em que ocorreram 911 faltas disciplinares, a maioria punida com açoites: "...Venho por meio destas linhas pedir para não maltratar a guarnição deste navio, que tanto se esforça por trazê-lo limpo. Aqui ninguém é salteador nem ladrão..." dizia um aviso ao comandante de um dos navios, assinado por um marinheiro conhecido como Mão Negra.

Na madrugada de 16 de Novembro a Baia da Guanabara está repleta de navios estrangeiros que aportam para a posse do marechal Hermes da Fonseca na presidência da República. Ao raiar do dia, toda a tripulação do navio Minas Gerais é chamada ao convés para assistir aos castigos corporais a que seria submetido o marinheiro Marcelino Rodrigues Menezes. Na noite anterior ele ferira a navalhadas o cabo Valdemar, que o havia denunciado por introduzir duas garrafas de cachaça no navio. Sua pena: 250 chibatadas e não mais 25 como vinha acontecendo.

Junto a tripulação do navio havia também oito carrascos oficiais. Depois de examinado pelo médico de bordo e considerado em perfeitas condições físicas, Marcelino é amarrado pelas mãos e pés e submetido ao castigo. Durante o castigo, Marcelino desmaia de dor, mas a surra continua. Ao fim das 250 chibatadas, suas costas estão banhadas em sangue lanhadas de cima para baixo. Desacordado, ele é desamarrado, embrulhado num lençol e levado aos porões. Lá jogam iodo em suas costas e o deixam estrebuchando no chão.

Na noite de 22 de novembro de 1910, a revolta explodiu. João Cândido assumiu o comando do navio Minas Gerais, morrendo na luta o comandante Batista das Neves, alguns oficiais e vários marinheiros. Os primeiros tiros assustaram o recém-empossado Hermes da Fonseca, que assistia tranqüilamente a uma ópera de Wagner. Outros marujos tomaram os navios: São Paulo, o Bahia e o Deodoro. Manobrando as belonaves com grande perícia, apontaram seus canhões para pontos estratégicos da cidade, exigindo, em comunicado enviado ao presidente da república, a reforma do Código Disciplinar, o fim das chibatadas, "bolos" e outros castigos, o aumento dos soldos e preparação e educação dos marinheiros.

Sem força para dominar a rebelião, que recebera o apoio da oposição e de parte da população carioca, o marechal Hermes e o Parlamento cederam às exigências. Rapidamente aprovaram um projeto - de autoria de Rui Barbosa, que anos atrás tinha apoiado a reinstauração dos castigos - pondo fim aos açoites e concedendo anistia aos revoltosos. Fato raro na história do Brasil, a revolta popular - "uma conspiração de cozinha tantas vezes fatais à sala", como se chegou a lembrar - triunfara.

Mas o Governo não perdoou a ousadia daqueles marujos "sem cultura" e "sem responsabilidades". Ignorando a anistia, baixou um decreto regulamentando o afastamento dos marinheiros julgados indesejáveis e, em seguida, mandou prender 22, entre os quais alguns participantes da revolta de novembro. Interessado em estabelecer uma ditadura para calar a oposição, provocou novo levante, ao espalhar a notícia de que o Exército viria punir os fuzileiros do Batalhão Naval. O objetivo do governo, como denunciaram seus adversários, era criar um pretexto para a decretação do estado de sítio.

Atemorizados, os marinheiros insubordinaram-se a 9 de dezembro, sendo bombardeados por canhões do Exército e da Esquadra Branca. Houve dezenas de mortos e inúmeros presos, inclusive João Cândido. Na noite de Natal, 97 foram embarcados no Satélite, com destino à Amazônia, onde seriam submetidos a trabalhos forçados na extração da borracha, produto que vivia seu momento de apogeu. No meio da viagem, sete deles, acusados de conspiração, foram fuzilados, enquanto dois se atiraram no mar, morrendo afogados.

João Cândido, "o negro que violentou a história do Brasil", Segundo comentou na época o escritor Gilberto Amado, foi preso, com mais 17 marinheiros, numa masmorra encravada na rocha em forma de cúpula na ilha das Cobras, onde a ventilação era feita através de furos na chapa de ferro de uma das portas e em outra de madeira com alguns orifícios.

Neste local, 15 morreram asfixiados na manhã seguinte. A cela fora desinfetada por água e cal. A água evaporou-se com o forte calor e a cal penetrara nos pulmões dos marinheiros. "...A gente sentia um calor de rachar. O ar abafado. A impressão era de que estávamos sendo cozinhados dentro de um caldeirão. Alguns corroídos pela sede, bebiam a própria urina..." João Cândido, um dos sobreviventes, foi internado no Hospital dos Alienados, do Rio, onde os médicos negaram que ele estivesse louco. Julgado em novembro de 1912, foi absolvido, bem como todos os marinheiros participantes das revoltas.

João Cândido simbolizou a luta pela dignidade humana. Sua coragem, no entanto, teve um preço alto demais. O mestre-sala dos mares foi um divisor de águas na Marinha. Graças a ele, a chibata nunca mais foi usada. Ele marcou seu espaço na história deste país.

HOMENAGEM DE JOÃO BOSCO E ALDIR BLANC À "REVOLTA DA CHIBATA"

Sobre a censura à música, o compositor Aldir Blanc conta: "...Tivemos diversos problemas com a censura. Ouvimos ameaças veladas de que a Marinha não toleraria loas e um marinheiro que quebrou a hierarquia e matou oficiais, etc. Fomos várias vezes censurados, apesar das mudanças que fazíamos, tentando não mutilar o que considerávamos as idéias principais da letra. Minha última ida ao Departamento de Censura, então funcionando no Palácio do Catete, me marcou profundamente. Um sujeito, bancando o durão, (...) mãos na cintura, eu sentado numa cadeira e ele de pé, com a coronha da arma no coldre há uns três centímetros do meu nariz. Aí, um outro, bancando o "bonzinho", disse mais ou menos o seguinte:

Vocês não então entendendo... Estão trocando as palavras como revolta, sangue, etc. e não é aí que a coisa tá pegando...

Eu, claro, perguntei educadamente se ele poderia me esclarecer melhor. E, como se tivesse levado um "telefone" nos tímpanos, ouvi, estarrecido a resposta, em voz mais baixa, gutural, cheia de mistério, como quem dá uma dica perigosa:

- O problema é essa história de negro, negro, negro..."

MÚSICA DE JOÃO BOSCO E ALDIR BLANCI EM HOMENAGEM A REVOLTA DA CHIBATA

Mestre-Sala dos Mares", de João Bosco e Aldir Blanc, composto nos anos 70, imortalizou João Cândido e a Revolta da Chibata. Como diz a música, seu monumento estará para sempre "nas pedras pisadas do cais". A mensagem de coragem e liberdade do "Almirante Negro" e seus companheiros resiste.

O Mestre Sala dos Mares-(letra original sem censura e as "correções" feitas pela censura)

(João Bosco / Aldir Blanc)

(letra original sem censura)

Há muito tempo nas águas da Guanabara

O dragão do mar reapareceu

Na figura de um bravo marinheiro -(depois da censura)Na figura de um bravo feiticeiro

A quem a história não esqueceu

Conhecido como o almirante negro - (depois da censura)Conhecido como o navegante negro

Tinha a dignidade de um mestre sala

E ao navegar pelo mar com seu bloco de fragatas - (depois da censura)E ao acenar pelo mar na alegria das regatas

Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas

Jovens polacas e por batalhões de mulatas

Rubras cascatas jorravam das costas

dos negros pelas pontas das chibatas - (depois da censura) dos santos entre cantos e chibatas

Inundando o coração de toda tripulação - (depois da censura)Inundando o coração do pessoal do porão

Que a exemplo do marinheiro gritava então - (depois da censura)Que a exemplo do feiticeiro gritava então

Glória aos piratas, às mulatas, às sereias

Glória à farofa, à cachaça, às baleias

Glória a todas as lutas inglórias

Que através da nossa história

Não esquecemos jamais

Salve o almirante negro - (depois da censura)Salve o navegante negro

Que tem por monumento

As pedras pisadas do cais

Mas faz muito tempo

“A Marinha liberou, enfim, depois de 97 anos, documentos referentes ao marinheiro de 1ª classe João Cândido Felisberto (1880-1969), o Almirante Negro, líder da Revolta da Chibata (Folha Online, 09/03/2008

fonte
http://edilzafontes.blogspot.com/2009/12/cem-anos-da-revolta-da-chibata.html

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